quarta-feira, 28 de julho de 2010

Trânsito

Ontem mesmo eu estava conversando com a Tamara sobre casualidades... Pequenas mentiras que as pessoas contam, grandes tecnologias que os cientistas desenvolvem, aeromóvel, metrô, trem, carro, tráfego... Você sabe. Daquelas conversas longas e prazerosas em que um pensamento leva a outro. Mas ao chegar ao trânsito, conseguimos um consenso. O que provoca mesmo os grandes congestionamentos são aqueles motoristas que trocam de faixa continuamente.

Certamente, são aqueles desesperados que não podem perder a nova novela das sete. Querem colocar os pés pra cima e escorar a cabeça nas almofadas mofadas pela umidade. E, uma vez que estes infelizes conhecem Murphy, eles acreditam piamente que a fila do lado anda mais rápido. Grandiosidade de perseguição. Acúmulo crédulo de esperanças vãs. Tudo que eles conseguem é constatar que a fila do lado - a que eles estavam antes de trocar de faixa - está andando 'menos devagar' que a fila em que eles se encontram. O que eles não constatam é que, ao trocar de faixa, o motorista de trás tem que reduzir a velocidade. E tal bendita/maldita redução, por menor que seja, se propaga como umareação em cadeia... seja por míseros 100 metros, ou por infindáveis 7 quilômetros de fila.

A inconstância e impaciência do coleguinha do carro ao lado me despertou para um certo paradoxo. O trânsito é como a vida. Ou a vida é como o trânsito. Não cheguei a uma conclusão sobre isso. O certo é que nós assumimos a posição que nos é conveniente no trânsito... e na vida. Podemos ser o condutor que troca de pista o tempo todo e, devido a nossa impaciencia e indecisão, atrasamos o avanço dos outros. Podemos ser o motorista do carro de trás, que tem que diminuir a velocidade de suas ações para que os outros se sintam seguros e confortáveis com as mudanças. Podemos ser o cara láááá da frente, andando a 40km por hora numa pista de 80km, e só retardando a vida alheia pela insegurança e lentidão. Ou podemos ser o cara láááá de trás, que alheio a todo movimento, aprecia a viagem de longas horas por miseros metros, sem dar-se conta que sua lentidão não lhe cabe conduzir.

Não sei ao certo que tipo de motorista sou para minha própria existência. E começo seriamente a pensar que nem todo mundo é o mesmo motorista todos os dias. Imagina quão atordoante seria trocar de pista a cada minuto por ser apressado. Ou mais atordoante ainda ver sua vida seguir em velocidade inconstante devido a decisões alheias. Quem sabe o atordoante passe a relaxante se seguirmos a passividade de sermos o ultimo da fila. Inconstância de movimentos nos trás incoerência de filosofias.

Talvez hoje acorde um motorista mais determinado e paciente para alcançar meu destino tão rápido quanto o trânsito determine.
Talvez seja mais um feriado de sol na capital, onde os motoristas atordoados se escondem na praia para esquecer o trânsito da metrópole, quando o momento ideal para esquece-lo é enfrentá-lo... sem um mísero condutor a frente, tampouco buzinaços atrás.
Talvez influenciar o fluxo dos outros seja uma grande responsabilidade a ser encarada de frente e com personalidade. A questão é encontrar um motivo melhor do que 'não perder a nova novela das sete'.

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