sábado, 11 de junho de 2011

Dezinteresse

ando pintando linhas
riscos soltos
pingos deixados sobre o papel de rascunho
que por desuso ou desapego
vai ser amassado e transformado em machê
sem correr o risco de se perder nos entremeios da pasta
prendo linhas rubras em maças do rosto
e vejo manchas púrpuras em peles mais ressecadas
não penso
só tracejo
por horas paro com o trabalho
e observo o tanto já desenhado
algumas cores deixadas de lado
preto que só se revela em sombras
pois o ambiente é de sol intenso
me desapego da obra
me desprendo dos ideais utópicos
para entender um desinteresse mutuo
relacionado ao medo
medo que a tela sente de mim
medo que eu sinto de terminar a obra precipitadamente
por ora, me prendo aos olhos
que gostariam de se mostrar verdes
esmeraldinos de lágrimas vãs
mas vão sempre insistir nessa doce mistura
do fundo azul com manchas amarelas
acho o ton perfeito
para os últimos e melhores momentos
de uma obra que não quero exibir
guardo-a comigo
e nada mais importa

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O erotismo de Roberto

eu sou apaixonado pelas letras do Roberto Carlos
acho que é um amor que vem de mãe pra filho.
por muito tempo, fui implicante com ele
com ele e com Chico Buarque
como pode essa gente fanha fazer tanto sucesso cantando?
vão procurar uma fonoaudióloga!
mas o ponto não é este...
o fato é que tanto Chico quanto Roberto escrevem muito,
eu disse: MUITO BEM!!!
e as letras do Roberto, em especial me fascinam
ele é de uma sutileza incrível
fala de amor maduro sem nunca usar a palavra "velha"
fala de mulher gorda sem nenhum perjorativo ao sobrepeso
e fala de sexo
nossa, como o Roberto era promíscuo nos seus vinte e poucos
muito certo que ele comia muita gente naquela época
porque, ao cotrário das entidades masculinas que se encontram pelas ruas hoje em dia
Roberto sabia argumentar
Imagine você, mulher, recebe ao pé do ouvido a seguinte cantada:
"eu te proponho nós nos amarmos e nos entregarmos
(...) te dar meu corpo, e depois do amor, o meu conforto"
e se tu é daquelas frígidas que nunca transa, mas espera um principe encantado
o filho-da-putinha arremata com:
"eu te proponho nao dizer nada, seguirmos juntos na mesma estrada
que continua depois do amor, no amanhecer..."
pronto... você ouviu tudo o que queria sobre sexo
sem ter ouvido sequer uma única palavra profana
extremamente molhada
você sede à investida
mas quer se fazer de difícil
sabe como é mulher, não é?!
acha que transando na primeira noite vai desvalorizar o passe
ou porque está um pouco acima do peso
ou porque o sutiã não combina com a calcinha
ou porque a depilação tá um pouco vencida
mas Roberto é ardiloso
e ele te diz suavemente enquanto amacia o cabelo da sua nuca
"Olha, você tem todas as coisas que um dia eu sonhei pra mim
a cabeça cheia de problemas, mas eu não me importo, eu gosto mesmo assim!"
e heis que você se rende
ele te leva pra casa
te oferece um bom vinho
sem nunca passar dos limites que você impõe
mas é inevitável se seduzir por essas palavras compostas
por essa linguagem falsamente erudita
e altamente erótica
lá fora chove
então, antes que você perceba
"os botões da blusa que você usava e meio confusa desabotoava
iam pouco a pouco me deixando ver no meio de tudo um pouco de você"
e a melhor parte de tudo
é o conforto da casa dele
afinal de contas, os lençóis são macios
e amanhã de manhã ele vai servir um café pra vocês dois
te fazer um carinho depois e te envolver em seus braços...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Eduardo e Mônica



Linda campanha da Vivo...
Renato Russo faz uma falta do caramba!!!

terça-feira, 7 de junho de 2011

Mestrando

escrever...
alguns afirmam ser extremamente fácil,
como se baixar a cabeça e letrar pensamentos fluísse naturalmente.
outros afirmam ser suplicantemente difícil,
com a desculpa de que escrever é um dom
para os que sofrem de excesso de inspiração.
confesso minhas limitações...
nem sempre é fácil poetizar o cotidiano...
nem sempre é permitido fazê-lo...
textos científicos precisam de fluência,
não precisam de rima.
eles são gelados...
muitas vezes congelados.
não passam de um diário de bordo,
relatando meses martirizantes.
e talvez sejam eles que mais forcem a mente,
e menos prendam a atenção.
seria tão mais fácil escrever:
100 páginas de angústias;
100 páginas de desesperos;
100 páginas de prazeres;
e relatar uma conclusão obscura e ambígua,
onde a vida é bela, o céu é azul e as águas são mansas,
mas as chuvas do inverno se aproximam trazendo o desconforto do frio
e o acalanto do fogo.
seria mais fácil poetizar uma vida sem nexos,
cheia de contrapontos,
onde o único sentido está na busca pela felicidade plena,
na consciência da vacuidade e impermanência dos eventos.
o fato é que meus experimentos são impermanentes.
meus corpos de prova exalam vacuidades
e deles eu tenho que tirar conclusões concisas
de propriedades macromoleculares
influenciadas pela simples vibração da ligação de dois carbonos.
exdrúxulo pensar que as migalhas de laboratório
definirão o tipo de professor que eu poderei ser.
é até mesmo descabido compreender
como a mistura de duas moléculas tão pequenas
podem eventualmente estar envolvidas
na melhora da qualidade de vida de um paciente com câncer de pulmão.
para poder gritar ao mundo o pouco que eu sei
tenho que recorrer à poesia do cotidiano.
por mais exata que seja minha ciência
eu quero humanizá-la,
profetizá-la,
doá-la aos pobres.
mas para isso, eu preciso cientificar e engessar meus versos.
dissertemos sobre a vida,
mesmo que a vida se resuma
a uma molécula com cinco carbonos e oito hidrogênios.
mestrado em engenharia do verso...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Desencontros

Queria ter tocado o Sol
De verdade
Queria mesmo
Ele é mais caloroso que os ambientes que me recebem
Ele tem esta espontaneidade de brilhar
Seu sorriso ilumina de longe
e me pergunto se não ofuscaria de perto
Mas o que faço com tal moço?
Se quando eu apareço
ele se esconde?
Ele coloca um sorriso no meu rosto
com certa periodicidade
Ele me deixa numa escuridão sem fim
e nem toma conhecimento disso
Ele me ilumina por completo
me enchendo de esplendor
E nesses momentos de iluminação
todos me saúdam, me idolatram
todos os amantes me admiram
sem saber que a coloração da minha face
é roubada desse moço distante
a quem amo, mas não ouso tocar
Por que foges de mim?
Por que me deixas teus raios de saudação
numa entonação de despedida?
Como lenços esquecidos em residências alheias
que servem apenas de acalanto para mais uma madrugada
Sendo que, a medida que segues fugindo
sigo necessitando-te
Espero paciente outro amanhecer
quando te vejo tomando meu céu
assim como volto à tardinha
para buscar teus resquícios de lembrança
Queria ter tocado o Sol
Queria mesmo

tua,
Lua.

domingo, 5 de junho de 2011

"que seja letra que me faz voar..."

eu nem sempre lembro o caminho exato de casa,
e voltar, às vezes, é pior que se perder por ficar.
não sou bom com pedidos,
não sou bom com novas músicas em velhos violões,
não sou melodia sem voz.

nem sempre acerto o tom,
e às vezes a voz precisa de companhia.
às vezes os pés não estão no chão assim como o coração não está sozinho,
espera!
ouve!
podemos dançar com esse silêncio.
sempre quero dançar contigo no silêncio,
mas te prefiro grito!
te sinto melhor quando as mãos afagam soltando palavras.
quando o desejo é segredo de luz acesa.

podemos andar muito ainda,
podemos ser companhia,
e às vezes seremos ausência...
você pode ser dor em dias de melancolia,
mas que não seja nunca privação,
e que sempre seja pra sempre enquanto quisermos.
que seja na medida do nosso eterno.

que você seja saudade gostosa de sentir e matar...
que seja abraço necessário de ganhar,
que seja letra que me faz voar,
escreve.
não deixe de fluir,
não deixe de jorrar...

Ton

Regresso

"Foram longos dias de espera...
ansiedade, fantasia
o sonho desata louco a inventar mil quimeras"
Ruth Larré escreveu isto uma vez
não tinha muito em haver com regressos
era mais um conto sobre um baile
onde se dançava
e se perdia
e se ganhava
encontros com novos
desencontro com velhos
eu prometera-me jamais perder o foco
inspirar esses seis meses
e respirar profissionalismo
e me perdi
escrevi linha tortas
muito tortas
daquelas difíceis de consertar
tudo em busca de um sonho
mas o sonho foi se perdendo no caminho
e neste baile louco de ganhar e perder
eu sinto que perdi muito de mim mesmo
quando me olhava no espelho, já não via meu rosto
busca inspiração para mais linhas tortas
e elas sequer tortas surgiam
Mas em momentos de desespero interno
- e sorrisos forçados par alegrar aos que precisam mais de mim do que eu mesmo -
heis que surge uma inspiração
uma inspiração diária
que há seis meses abneguei por sonhos maiores que foram minguando
heis-me aqui inspiração
estou de volta!