escrever...
alguns afirmam ser extremamente fácil,
como se baixar a cabeça e letrar pensamentos fluísse naturalmente.
outros afirmam ser suplicantemente difícil,
com a desculpa de que escrever é um dom
para os que sofrem de excesso de inspiração.
confesso minhas limitações...
nem sempre é fácil poetizar o cotidiano...
nem sempre é permitido fazê-lo...
textos científicos precisam de fluência,
não precisam de rima.
eles são gelados...
muitas vezes congelados.
não passam de um diário de bordo,
relatando meses martirizantes.
e talvez sejam eles que mais forcem a mente,
e menos prendam a atenção.
seria tão mais fácil escrever:
100 páginas de angústias;
100 páginas de desesperos;
100 páginas de prazeres;
e relatar uma conclusão obscura e ambígua,
onde a vida é bela, o céu é azul e as águas são mansas,
mas as chuvas do inverno se aproximam trazendo o desconforto do frio
e o acalanto do fogo.
seria mais fácil poetizar uma vida sem nexos,
cheia de contrapontos,
onde o único sentido está na busca pela felicidade plena,
na consciência da vacuidade e impermanência dos eventos.
o fato é que meus experimentos são impermanentes.
meus corpos de prova exalam vacuidades
e deles eu tenho que tirar conclusões concisas
de propriedades macromoleculares
influenciadas pela simples vibração da ligação de dois carbonos.
exdrúxulo pensar que as migalhas de laboratório
definirão o tipo de professor que eu poderei ser.
é até mesmo descabido compreender
como a mistura de duas moléculas tão pequenas
podem eventualmente estar envolvidas
na melhora da qualidade de vida de um paciente com câncer de pulmão.
para poder gritar ao mundo o pouco que eu sei
tenho que recorrer à poesia do cotidiano.
por mais exata que seja minha ciência
eu quero humanizá-la,
profetizá-la,
doá-la aos pobres.
mas para isso, eu preciso cientificar e engessar meus versos.
dissertemos sobre a vida,
mesmo que a vida se resuma
a uma molécula com cinco carbonos e oito hidrogênios.
mestrado em engenharia do verso...
terça-feira, 7 de junho de 2011
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