quarta-feira, 31 de março de 2010

Deliciosa confusão mental

Todo mundo, sem exceção, quando fica um pouquinho apaixonado, além de ficar besta e alucinadamente viajante, comete a estupidez de tentar definir o amor. Seja numa filosofia de buteco, numa cantada barata, ou simplesmente na primeira dúvida sobre quando dizer "eu te amo", todo infeliz embasbacado por alguém um pouquinho mais especial para seus padrões tenta definir o bendito/maldito amor.

Há anos que ouço a expressão "eu te amo, hoje!"

Não que ela seja necessariamente destinada a mim em todas as situações, mas o "eu te amo, hoje!" fez parte da minha vida, ou pelo menos da minha audição nos ultimos sete anos. Mas, até ontem, eu não tinha parado pra pensar o quanto o "eu te amo, hoje!" era preciso e altamente conveniente. E pra me dar conta disso, não surgiu em filosofia de buteco, nem em cantada barata, nem na primeira dúvida. Bastou esse reles mortal estar embasbacado por alguém especial para seus padrões que o "eu te amo, hoje!" gritou estridente aos ouvidos. E com o grito de liberdade, a explicação plausível.

Quando o ser humano gosta de alguém, pode ter uma vontade desesperada de demonstrar os sentimentos. Quer ser sincero, mas não quer que o ciclaninho ou o beltraninho pense que estamos adiantados, apressados, afobados ou só entusiasmados. Existe a necessidade de cuidado, para que a demonstração do sentimento não seja apenas uma ferramenta para arrancar um sorriso hoje, mas que também seja capaz de manter esse sorriso por vários dias, sem a possibilidade de um belo dia se acordar e ferir demais alguém especial para seus padrões com a besteira ou sapiência de se dizer "eu te amo!"

Tem gente que tem um receio descomunal com o amor. Dizer "eu te amo" então, quase um parto normal de trigêmeos. Acredito que é porque existem arestas muito tênues entre amor e ódio, felicidade e sofrimento, esperança e desilusão. Mas, se o amor simplesmente se transforma a cada dia por essa linha tênue, por que o medo de usá-lo todo dia?!

O ser humano está em constante mutação. Não digo de caráter nem de personalidade, mas de sentimentos, situações, rotinas e convivências. É absolutamente normal que as formas de expressar sentimentos, situações, rotinas e convivências também mudem. E é exatamente neste ponto que o "eu te amo, hoje!" se torna conveniente, sem deixar de ser verdadeiro. Esse amor pode estar presente amanhã, pode se tornar o ombro do amigo, pode se tornar o abraço do irmão, pode se tornar a faca do inimigo íntimo. Mutável, mas peristente e existente.

Mas, se o bendito amor é tão dependente de expressividade, por que ignorá-lo? Por medo? Por respeito? Por receio?

Me nego ao medo de expressar meus sentimentos! Eu te amo hoje! E posso gritar que te amo. Por que a incerteza do amanhã justifica os desesperos de expressividade do hoje. Renato Russo me entenderia. Ele mesmo dizia que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. O futuro é incerto, o passado é imexível, o presente é a dádiva de poder berrar ao mundo:
EU TE AMO, HOJE!

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